Nada de frio



Uma amiga, que está separada há dois anos, me ligou e disse: “os meninos foram passar o final de semana prolongado com o pai. Estou me sentindo tão só que sinto arrepios e um frio  inexplicável” -- O  frio é totalmente inexplicável mesmo, considerando que ela mora em Fortaleza e não estava doente -- Ela tem dois filhos, um de oito anos e outro de seis, e os meninos estavam viajando sem ela pela primeira vez.

Apressei-me em tirar o foco do “frio”, dizendo que seria a oportunidade que ela tinha de se dar o luxo de não fazer nada, de assistir a filmes legais, ler artigos de jornais para se informar, de assistir a qualquer coisa na TV, tomar um banho mais demorado, ligar para as amigas, ir ao salão sem pressa de voltar, arrumar armários e documentos... Sentir a quietude. Relacionar-se com ela mesma.

Ela sorriu e disse: “a sensação de abandono é que vai atrapalhar. Sinto que queria alguém para cuidar de mim e assistir aos filmes e aos canais de TV que você sugeriu e, talvez, me ajudar a fazer todo o resto. Faço tudo só e me sinto cansada”. Foi quando me dei conta que não era somente os meninos. Era a falta de um relacionamento que substituísse seu casamento que não deu certo. Foi um casamento conturbado e com o fim pior ainda.

Eu penso que autossuficiência cansa mesmo. É muito bom um colo. É bom compartilhar os momentos de prazer e dividir o peso do desprazer. Ter o conforto de um abraço. Ter uma pessoa para dizer que você é o máximo. Mas estar só não é motivo para sofrimento que justifique esse “frio”. Acredito que estar só é melhor do que estar mal acompanhada, pois quantas vezes nós ouvimos casos de pessoas que fazem concessões desmedidas, aceitam frustrações, abafam suas personalidades, sufocam sentimentos, calam suas opiniões, tolhem suas liberdades, vivendo em tensão, fazendo malabarismos e andando na corda bamba, para que possam ter uma pessoa por perto? Acho um preço alto demais.

Nessa perspectiva, a solidão pode ser um privilégio. Você pode preencher a si mesma. Satisfazer-se sem pensar em receber. Conhecer-se. Amadurecer. E, descobrindo a melhor versão de si mesma, pode fazer escolhas mais acertadas e cuidar de alguém que cuide de você. Fazendo trocas justas por preços justos. 
E nada de "frio", por favor!

Cristhiane Pimenta Maia

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