Entenda o mensalão

Dia 2 de agosto, próxima quinta, o Supremo Tribunal Federal vai começar a julgar os 38 réus da ação penal 470, mais conhecida como processo do Mensalão. O Mensalão foi um escândalo que transformou o cenário político brasileiro, sobretudo as eleições de 2006 e 2010. Para quem não lembra, vamos relembrar rapidamente.
No ano de 2005, foi aberta uma temporada de CPIs, que começou em maio, com a divulgação de um vídeo de um funcionário dos Correios, Maurício Marinho, recebendo propina de um empresário interessado em participar de licitações do governo. No vídeo, Maurício Marinho recebia 3 mil reais e afirmava que dentro do esquema estavam três pessoas  trabalhando fechado e sendo os únicos designados pelo PTB (Partido Trabalhista Brasileiro), juntamente com o deputado Roberto Jefferson comandando o esquema em composição com o governo. Foi uma bomba!
O então deputado e presidente do PTB, Roberto Jefferson, achando que iria ser usado como bode expiatório, começou a fazer revelações sobre uma prática ilegal de pagamentos mensais a parlamentares aliados, que era operado pelo PT, e, segundo ele, sob as ordens de José Dirceu, o então chefe da Casa Civil do governo Lula. Jefferson acusou também outros deputados de seu próprio partido e dos partidos PL (Partido Liberal) e PR (Partido da República) de receberem a “mesadinha” para que votassem a favor dos projetos do governo. Por isso o nome Mensalão, referindo-se ao dinheiro mensal recebido.
O Congresso criou duas CPIs: a dos Correios e a da Compra de Votos. As denúncias atingiram nomes da cúpula do PT na época: o tesoureiro, Delúbio Soares; o secretário-geral, Sílvio Pereira; e até o presidente do partido, o ex-deputado José Genoíno, incluindo o Ministro José Dirceu, o principal alvo das acusações de Jefferson, e que foi substituído por Dilma Roussef, ministra da pasta Minas e Energia. Os depoimentos de Jefferson eram contundentes quanto a culpabilidade de Dirceu e os outros, e tão contundente quanto ao falar da inocência do presidente Lula, afirmando que ele não pertencia ao esquema.
O presidente Lula falou algumas vezes sobre o escândalo. Disse não acreditar na existência do tal mensalão, mas acabou se desculpando em nome do PT, diante de tantas acusações feitas e nada que as desmentissem. e determinou que ninguém fosse poupado, pertencesse ao PT ou não, fosse aliado ou da oposição, onde todos os culpados devessem ser responsabilizados e entregues a justiça.
Foram meses de turbulência em Brasília e inúmeros detalhes foram surgindo e revelando outras pessoas, empresas e bancos. Surgem as personagens do empresário mineiro Marcos Valério, dono de agências de publicidade, que ajudava a operar o esquema e distribuía dinheiro aos partidos e do publicitário Duda Mendonça que admitiu ter sido pago com dinheiro não contabilizado, e que, portanto, era Caixa Dois. Aliás, os envolvidos se utilizaram muito desse argumento de estarem repassando dinheiro para pagamentos de dívidas e empréstimos, sendo verdade ou não.
     É bem verdade que tem mais pessoas e empresas envolvidas, mas vamos mostrar graficamente, de forma reduzida, como funcionava o esquema:

Esses esquemas sempre foram praticados, quase nunca denunciados e muito menos provados. O voto sempre foi um artigo de luxo que, dependendo da situação do vendedor, podia-se fazer umas liquidaçõezinhas. E sabe por que nada faziam para acabar com isso? Porque quem não estava dentro, queria entrar! Agora, com tudo escancarado, tudo fica mais difícil, não é mesmo?
Foram quarenta pessoas denunciadas por corrupção ativa e passiva, formação de quadrilha, peculato, lavagem de dinheiro e evasão de divisas, tendo José Dirceu como  o principal acusado de ser o chefe central do esquema.
      O Tribunal Superior Federal irá julgar os trinta e oito remanescentes na ação penal 470, e é importante o Brasil acompanhar, pois toda essa história nos faz refletir sobre o que mudou desde lá até então e o que pode mudar se houver uma punição exemplar para os culpados ou não. O que nos enche de esperança é que, graças a uma imprensa atenta, e não estamos nos referindo à imprensa  sensacionalista, “nunca antes na história deste país” um escândalo ficou tão evidentemente visível (a redundância foi proposital). Portanto, com tantos holofotes em cima do caso é pouco provável que os juízes tentem “fazer política” no julgamento.É o que esperamos.
 Querem saber? Foi muito bom essa bomba ter estourado. Se ela não tivesse estourado, o cenário político seria completamente diferente de hoje, por que não dizer pior? Não estamos querendo fazer apologia a nenhum governo, e sim, a modelos que primam pela transparência. E, considerando que antes a imprensa não falava de corrupção tão abertamente, já estamos avançando. A transparência e o envolvimento do povo com os três poderes (Legislativo, Executivo e Judiciário) possibilitarão a mudança social e política necessária e tão esperada. Apostem nisso!

Cristhiane Maia

Fontes:
            




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